Banda Desenhada
Astérix é o herói da banda desenhada mais popular na Europa, tendo surgido em França a 29 de outubro de 1959, no número inaugural da revista Pilote. É uma genial criação de René Goscinny (argumento) e de Albert Uderzo (desenho), dois talentosos autores que já trabalhavam juntos em outras séries de BD. A Pilote pretendia um herói ligado à História de França, tendo Goscinny e Uderzo optado pelo período romano, nunca esperando que a série obtivesse tamanho êxito.
Uma vez escolhida a época histórica, cuja referência máxima é o célebre Vercingetórix, decidiram que o nome do herói terminaria na mesma sílaba, "-ix" e que começaria pela letra "A", primeira letra do alfabeto: Astérix (de asterisco). A escolha da generalidade dos outros nomes seguiu um processo semelhante: o carregador de menires, famoso apreciador de javali assado e inseparável companheiro de aventuras, Obélix (de obelisco), o druida Panoramix (de panorâmico), o polémico peixeiro, Ordralfabetix (de ordem alfabética), o bardo Assuranceturix (de seguro contra todos os riscos), entre outros.
O inseparável cãozinho de Obélix, apareceu pela primeira vez em A Volta à Gália, em 1963. Quanto ao nome do cãozinho, posteriormente, por proposta dos leitores, vingou Idéafix pela "ideia fixa" que tem em relação às árvores, uivando sempre que uma é derrubada, pelo que é considerado o cão mais ecológico da BD.
Astérix é um pequeno guerreiro louro, muito inteligente, que habita uma aldeia gaulesa que resiste ainda e sempre ao invasor romano, com a ajuda da poção mágica, criada pelo druida Panoramix, de Astérix e do seu inseparável amigo, Obélix, que é dotado de uma força sobre humana. Este, quando era pequeno caiu no caldeirão da poção mágica, pelo que os seus efeitos são permanentes, ao contrários dos outros habitantes.
A aldeia gaulesa que tantas dores de cabeça dá a Júlio César localiza-se na costa da Armórica (atual Bretanha, em França), estando rodeada pelos campos romanos fortificados de Laudanum, Petitbonum, Babaorum e Aquarium, que constituem um dos "entretenimentos" mais apreciados pelos habitantes da também chamada "aldeia dos doidos". Outras vítimas muito frequentes e divertidas são também os javalis e os piratas, estes uma paródia à série de BD Barba Ruiva, de Jean-Michel Charlier e Victor Hubinon, colegas e amigos de Goscinny e Uderzo na revista Pilote. Aliás, são frequentes as alusões a personagens célebres que vão aparecendo nos diferentes episódios, como Dupont e Dupond (Tintim), Jean Graton (criador de Michel Vaillant), Eddy Merckx (ciclista), The Beatles (grupo rock), Sean Connery e Kirk Douglas (atores).
A dupla leitura, mais infantil e mais adulta, cheia de alusões a figuras e factos históricos, confere um interesse acrescido, por parte dos leitores de diferentes idades, num fenómeno sociológico e mediático sem igual.
Muitos afirmam que a luta pela resistência face aos romanos, numa relação bastante desproporcionada, tem várias associações, desde logo uma mais nacionalista, com a orgulhosa França resistente à cultura anglo-saxónica, numa altura em que o seu idioma tem vindo a perder terreno no plano internacional. Com a morte prematura de René Goscinny em novembro de 1977, o derradeiro álbum feito pelos dois autores, Astérix entre os Belgas, em que Uderzo ultimava os desenhos, ficou suspenso, sendo editado apenas em 1979. Depois, Uderzo criou as Éditions Albert-René, responsáveis pelos álbuns que continuou a realizar a solo, mas também de outros livros dedicados às criações de Goscinny e de Uderzo.
Em fevereiro de 2001, a cidade francesa de Rennes engalanou-se à época romana para promover o lançamento do 31.º álbum Astérix e Latraviata (com uma tiragem inicial de oito milhões de exemplares), 40 anos depois da edição do primeiro álbum, Astérix, o Gaulês (de 1961, cuja tiragem foi de seis mil exemplares). A tiragem foi gradualmente aumentando até que com o álbum Astérix e Cleópatra (de 1965) se atingiu um milhão de exemplares. Estava cimentado em poucos anos um verdadeiro mito que, em todo o Mundo, já vendeu mais de 300 milhões de álbuns nas mais variadas línguas e dialetos, e que continua a encantar diferentes gerações de leitores. Em 2005 surgiu O Céu Cai-lhe na Cabeça, com uma tiragem global de 8 milhões de álbuns editados em 27 línguas.
Cinema
Em relação a cinema de animação existem vários filmes, adaptações de diferentes episódios da BD, todos com Roger Carel como voz de Astérix: Astérix le gaulois (Astérix, o Gaulês), de 1967, Astérix et Cléopatre (Astérix e Cleópatra), de 1968, Astérix et la surprise de César (Astérix e a Surpresa de César), de 1985, Astérix chez les Bretons (Astérix entre os Bretões), de 1986, Astérix - Le Coup du Menhir (Astérix - O Golpe do Menir), de 1989 e Astérix et les Indiens (Astérix Conquista a América), de 1994. Já Les 12 travaux d'Astérix (Os 12 Trabalhos de Astérix), de 1976, teve um argumento original, sendo produzido pelos Studios Idéfix (1974-1978).
Em 1999, ano do 40.º aniversário da sua criação, deu-se a estreia de um filme com atores de carne e osso, Astérix et Obélix contre César (Astérix e Obélix contra César), realizado por Claude Zidi. Este grande êxito de bilheteira contou com, entre outros atores, Christian Clavier (Astérix), Gérard Depardieu (Obélix), Roberto Benigni (Lucius Detritus), Claude Piépru (Panoramix), Michel Galabru (Abracurcix), Laetitia Casta (Falbala) e Gottfried John (Júlio César). Um segundo filme estreado em 2002 intitula-se Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre (Astérix & Obélix: Missão Cleópatra), realizado por Alain Chabat. Baseado no episódio "Astérix e Cleópatra", teve um elenco constituído por Christian Clavier (Astérix), Gérard Depardieu (Obélix), James Debbouze (Numerobis), Monica Bellucci (Cleópatra), Claude Rich (Panoramix) e Alain Chabat (Júlio César). Há ainda um telefilme inspirado em Astérix, Deux Romains en Gaule, de 1967, que contou com a participação dos autores.
Produtos derivados
Astérix tornou-se um negócio altamente rentável, estando presente em livros didáticos, bonecos diversos, vestuário, jogos, multimédia e publicidade, que são algumas das muitas variantes de uma série que alargou o êxito mesmo após a morte de Goscinny, em 1977.
Um livro extra coleção bastante curioso e que ajuda a perceber a origem da força sobre humana de Obélix é Comment Obélix est tombé dans la marmite du Druide quand il était petit (Como Obélix Caiu no Caldeirão do Druida Quando era Pequeno), originalmente escrito por Goscinny em 1965 e que foi posteriormente enriquecido com ilustrações de Uderzo. Quatro dos filmes animados estão adaptados a livros e existem três livros diferentes de receitas, para além de livros de jogos e diversos títulos sobre a série e os seus autores.
Um momento que assinalou o aumento de popularidade da série foi a edição de 19 de setembro de 1966 da prestigiada revista francesa L'Express que, com honras de capa, falou do fenómeno Astérix. Astérix foi também capa da revista Time (dos EUA) a 8 de julho de 1991, numa edição especial consagrada à França, prova que Axtérix é um dos mais prestigiados "embaixadores" do país.
De entre as diversas exposições que têm sido realizadas em torno da série, destaca-se a do Museu Nacional das Artes e Tradições Populares (em Paris), entre 30 de outubro de 1996 e 21 de abril de 1997, sem esquecer a do Museu da BD (em Angoulême), entre 21 de janeiro e 27 de setembro de 1998.
O Parque Astérix, inaugurado a 29 de abril de 1989 e localizado nos arredores de Paris, é um gigantesco parque de diversões (com 170 hectares) que rivaliza com a Disneyland Paris (Eurodisney), com a reconstituição da aldeia dos irredutíveis gauleses, o acampamento romanos e diversões para toda a família.
Astérix em Portugal
A estreia de Astérix no nosso país aconteceu no Foguetão, a 4 de maio de 1961, tendo sido publicado também no Cavaleiro Andante, nas revistas Tintin (1968-1982) e Flecha 2000 (1978), no Diário Popular (suplemento "Flecha 2000" - 1985-1986) e no Jornal da BD (1982-1987). Ao nível dos álbuns, Astérix é a mais editada série de BD em Portugal, tendo aparecido de início dois álbuns da Íbis, por volta de 1970, seguindo-se a Livraria Bertrand, que editou toda a série entre 1973 e 1983. De permeio registaram-se edições publicitárias, da Íbis e da Tulicreme (1969-1970), para além de uma edição de bolso (1974) e de uma caderneta de cromos (1980), ambas da Agência Portuguesa de Revistas. A edição de uma outra caderneta de cromos surgiu por intermédio da Panini, em 1987. Nos anos 80 do século XX a Meribérica, (depois Meribérica/Liber), assumiu gradualmente a edição da série, que ainda teve alguns títulos da época pós-Goscinny editados pela Verbo, registando-se sucessivas reimpressões associadas ao lançamento de novos títulos, que ocorrem em simultâneo com outros países europeus e com bastante divulgação na comunicação social. Em 2004 as Edições ASA passaram a deter os direitos sobre a mais popular e rentável série de BD europeia em Portugal, editando em 2005 o primeiro álbum de Astérix em Mirandês, Asterix L Goulés. Albert Uderzo esteve na "Lusitânia" (Portugal) em 1991, 1995 e em 1997 para promover a série, contactando jornalistas dos mais diversos órgãos de comunicação social.
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