Moby-Dick
Romance da autoria do escritor norte-americano Herman Melville, publicado em 1851 e considerado um clássico da literatura americana. Na altura do seu lançamento foi todavia ignorado pela crítica e pelo público. A obra constitui o ponto mais elevado da carreira literária de Melville, apesar de a sua profundidade não ter sido inteiramente compreendida pelos seus contemporâneos, o que explica o facto de o livro durante 50 anos não ter conhecido uma segunda edição. A obra trata das aventuras passadas no mar durante a caça à baleia, no sul do Pacífico, um negócio próspero e comum na América do século XIX. O romance contém um nível mais profundo de sentidos, uma análise da luta do homem pela sua sobrevivência e uma reflexão sobre as origens do mal, a que Melville foi particularmente sensível. O mal do mundo preocupava extraordinariamente o autor, que conhecera as suas formas extremas a bordo dos navios em que viajara. As implicações filosóficas e alegóricas da viagem de Ismael, o narrador, a bordo do baleeiro Pequod impedem uma interpretação linear dos factos. O tom realista e humorístico dos primeiros capítulos do romance dá gradualmente lugar a uma impressão generalizada de mistério. Ahab, o tirânico capitão do navio que Ismael considera louco, pretende perseguir pelos mares do mundo uma baleia branca que uma vez o ferira, obrigando-o a usar uma perna de marfim. A tripulação do Pequod, que representa a humanidade, acompanha o capitão na sua obsessiva demanda. A viagem é para Ismael uma forma de iniciação no conhecimento e na tragédia da vida. A experiência de Ismael é partilhada por Queequeg, o selvagem oriundo das ilhas do Sul, que acaba por morrer com toda a tripulação (menos Ismael) no naufrágio do Pequod depois da luta final com a baleia branca. Ismael salva-se no caixão de Queequeg, arrastado pelas águas, e pode contar a sua história. Moby-Dick é um tratado da pesca da baleia, onde se descrevem todos os pormenores desta atividade e dos seus participantes, mas é também uma extensa fábula da derrota do homem perante as forças cósmicas e as suas forças interiores. Ahab, uma figura tão trágica quanto heroica, desafia na baleia branca a natureza do universo e acaba por desencadear a sua própria destruição. Melville pretendia inicialmente escrever um romance cuja ação decorresse durante uma expedição de pesca à baleia. O encontro posterior com Hawthorne e a leitura de Shakespeare numa fase adiantada da composição de Moby-Dick foram contudo determinantes para o desenvolvimento do romance. Outras influências, nomeadamente da tragédia grega e da poesia épica de Homero, marcaram a conceção do livro. Nele se articulam diferentes registos literários, tipos de linguagem e áreas de conhecimento. O resultado final é uma celebração da energia criadora do homem e um testemunho da criatividade do próprio autor.
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