Protagonista e personagem modelada de A Sibila (1953) de Agustina Bessa-Luís, Quina, até aos quinze anos, "era uma menina de aspeto pouco viável, roxa, moribunda, e que apresentava no pulso uma mancha cor de sépia (...)"; "segunda filha que vingava num matrimónio de sete anos...", é nela que se perpetuará o clã feminino da casa. Recuperada de uma doença grave, a protagonista revela uma faceta mística pela qual ganha "títulos de adivinha, de mulher de virtude". Ao mesmo tempo, Quina administra de uma forma astuta o património familiar que o seu pai, já falecido, tinha desbaratado, conseguindo reavê-lo e ampliá-lo. Com 58 anos, a sibila e capitalista rural "mantinha-se com uma esbelteza de rapariga [...]. Estava ela no apogeu das suas faculdades de administradora, de discernimento e de vivacidade. Sabia fruir o prazer da lisonja, sem lhe ceder os seus interesses; sabia ser cauta, sem deixar de ser audaciosa. Sabia ser generosa sem prejuízo seu e sem estabelecer entre ela e o desafortunado ou o vencido essa espécie de relações odiosas, comuns no mundo dos que mutuamente se espoliam e se degradam. Estava perfeita no seu cargo de sibila, pois conhecia a alma humana de dentro para fora [...]. Era uma fortaleza de prudência cuja torre de menagem era sempre a vaidade." É nesse momento de amadurecimento das suas faculdades que a entrada na sua vida de um filho adotivo, Custódio, irá permitir que Quina concentre nessa criança irresponsável e perversa um manancial de ternura recalcado durante toda a sua existência. A sua herança espiritual e patrimonial transitará, porém, para a sobrinha Germa que, voltando à casa da Vessada depois da morte de Quina, se sente, ao embalar-se na rocking-chair, o "atual relicário desse terrível, extenuante legado de aspiração humana" e a quem competirá "traduzir a voz da sua sibila".
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