O carbúnculo ou anthrax (designação de origem anglo-saxónica) é uma infeção aguda causada por uma bactéria, o Bacilus antracis. Muitas vezes é usado incorretamente o termo "antraz" para designar esta doença, sendo que ele se reporta a um conjunto diversificado de furúnculos causados por outros tipos de bactérias, geralmente, estafilococus.
O Bacilus antracis infeta, sobretudo, animais herbívoros, sendo extremamente resistente, já que forma esporos envoltos por uma cápsula, que lhes permite resistirem por longo tempo no solo e em materiais contaminados (por exemplo, peles). O carbúnculo é hoje uma doença pouco frequente, rara nos países ocidentais, afetando, sobretudo, pessoas que lidam com gado e produtos derivados, como pastores, veterinários e talhantes.
Consoante a via de entrada do agente etiológico no organismo, podem-se considerar três tipos diferentes da doença:
- Carbúnculo cutâneo: ocorre em 95% dos casos, resultando da inoculação de esporos sob a pele, tendo como porta de entrada feridas. Na zona de inoculação surge uma pápula que, após um período de 24 a 48h, evolui para uma lesão ulcerada, de cor negra e indolor, rodeada por uma auréola inchada. A morte é rara, sendo a cura e a cicatrização da escara feitas em duas semanas, quando tratada. Sem tratamento, a probabilidade de morte é de 20%.
- Carbúnculo gastrintestinal: é raro e resulta da ingestão de alimentos contaminados com esporos. Ocorre febre e ulceração das vias digestivas superiores, acompanhadas de vómitos, diarreia e dores abdominais, podendo haver perda de sangue nas fezes. A taxa de mortalidade ronda os 50%, mesmo com tratamento.
- Forma pulmonar ou inalatória: resulta da inalação de esporos, e é a mais rara. Inicialmente surgem sintomas semelhantes aos de uma gripe (tosse, febre, mal-estar e fadiga), surgindo ao 2.º ou 3.º dia subida da febre, dispneia (falta de ar), alteração da consciência e lesões hemorrágicas nos pulmões e nas meninges. A taxa de mortalidade é extremamente elevada, perto dos 100%.
Devido à alta taxa de mortalidade provocada por esta última forma de anthrax, alguns países e grupos terroristas têm usado o bacilo como arma de guerra biológica, já que, além de altamente letal, os esporos são extremamente resistentes e não muito difíceis de produzir.
Vários ataques terroristas foram efetuados através de correspondência nos Estados Unidos da América, após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001.
Um ataque em massa - por exemplo, através de aviões pulverizadores - é difícil de executar, porque os esporos têm tendência a agregar-se, formando uma pasta, e, para ocorrer a infeção pulmonar, têm de estar sob a forma de pó inalável, o que não é fácil. Além disso, a dispersão na atmosfera, por ação do vento, reduz os riscos de infeção, já que para que a patologia seja desencadeada tem de ser ingerida uma quantidade muito elevada de esporos (mais de 10.000), abaixo da qual não há infeção. O período de incubação da forma pulmonar é longo, podendo atingir dois meses, enquanto nas formas cutâneas e gastrintestinal varia entre 1 a 7 dias.
Não há registo da ocorrência de contágio direto, sendo o tratamento feito pela administração precoce de antibióticos (derivados da penicilina e ciprofloxacina). Na forma inalatória, a administração do antibiótico tem de ser anterior à infeção ou logo nas fases iniciais, sendo que, posteriormente, embora o antibiótico mate as bactérias, não anula o efeito das toxinas já libertadas.
A prevenção faz-se com base na vacinação do gado, sendo que no Homem não é aconselhada pela Organização Mundial de Saúde, já que produz vários efeitos colaterais. A sua aplicação é feita durante um período de 18 meses e geralmente limitada a militares (em missão em países onde a doença é frequente), e a pessoal de laboratório. Em caso de suspeita de infeção por via pulmonar, deve-se iniciar imediatamente a terapia profilática com antibióticos.
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