Existem nas tradições da Antiguidade Clássica menções à palavra dos deuses como forma de criação divina e humana. Assim, Hermes foi criado a partir da palavra de Zeus, ou seja, Hermes era uma personificação do Logos de Zeus. O deus egípcio Tot, consorte de Maat, a deusa da palavra verdadeira, ou seja, da palavra que tornava em realidade tudo o que era mencionado, era também considerado como uma existência a partir da palavra divina. Segundo a mitologia, Tot terá assumido os poderes da deusa Maat e terá sido uma fonte de criação, já que os egípcios acreditavam que tudo o que tinha existência tinha que ser nomeado de viva voz e de forma clara. O deus babilónio Marduck só foi aceite pelos seus pares quando provou ser capaz de criar e destruir apenas com o dom da palavra.
Na tradição indiana, a deusa Cali, na sua manifestação em Vac, ou seja, "voz", proferiu o som mântrico Om para fazer surgir o Universo, tendo ainda inventado o alfabeto cujas letras eram chamadas de "mães". O dom da palavra primordial criativa como um atributo das deusas pode ter sido associado à ideia da primazia da mãe na transmissão das palavras aos filhos. Esta crença comum do poder criativo da palavra divina era uma forma de conceber vida que podia tornar-se uma característica das divindades masculinas, nomeadamente quando as sociedades patriarcais transmitiram às religiões a sua visão homocêntrica do Mundo.
Assim, na mitologia da Antiguidade Clássica e nas religiões do Livro, tanto as divindades pagãs como Adão "davam à luz" mulheres, ideia que não podendo ser biologicamente realizável era traduzível em termos da palavra criativa. Tanto os deuses como as suas manifestações terrenas eram, desde o seu nascimento, possuidores do dom do poder criativo e destrutivo através das palavras. Esta crença inspirou também o pensamento cristão, já que o apóstolo Tiago narra o episódio da infância de Jesus, em que Este, tendo o poder do Logos que lhe permitia tornar ideias em realidade, quando foi ridicularizado pelos seus colegas castigou-os com uma maldição pela simples menção dos seus nomes.
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