O Padrinho
Realizado em 1972 por Francis Ford Coppola, foi o filme que melhor retratou o crime organizado e a Mafia na América. Com um elenco de luxo que compreendia nomes como Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton, o filme foi um êxito à escala mundial. O argumento, baseado num romance de Mario Puzo, gira em torno da família Corleone que, em 1945, domina o crime em Nova Iorque. Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o patriarca, o "padrinho" que se rege por um código de honra e de conduta muito próprio, em que os interesses da família são colocados ao mais alto nível. Tem quatro filhos: o primogénito é Sonny (James Caan), um homem temperamental e irascível. Fredo (John Cazale), vítima de uma doença em criança, demonstra fraqueza e indecisão. Michael (Al Pacino) é o benjamim, lutou na II Guerra Mundial, mas é o mais inteligente e calculista. Finalmente, Connie (Talia Shire), a menina da família a quem estão vedadas as principais decisões.
O filme inicia-se com a festa do casamento de Connie: durante a boda são muitos os protegidos do Don que procuram pedir-lhe favores. Após uma longa ausência, surge Michael com a sua noiva Kay (Diane Keaton) que se mostra renitente em pertencer a uma família com ligações ao crime. Mais tarde, na véspera de Natal, quando Don Vito recusa envolver-se num negócio de narco-tráfico, é violentamente baleado na via pública. Sobrevive ao atentado, mas fica incapacitado para dirigir os negócios. Depois de salvar o seu pai de uma segunda tentativa de assassinato, Michael persuade Sonny, Tom Hagen (Robert Duvall) -filho adotivo de Vito e seu conselheiro-, e Clemenza (Richard Castellano) - o capo da família -, a encetar uma política de vingança contra os responsáveis diretos do atentado, entre os quais o Chefe de Polícia McCluskey (Sterling Hayden). Depois de os ter assassinado, Michael refugia-se na Sicília onde conhece uma jovem e se casa. Enquanto isso, os inimigos dos Corleone não desistem: traído pelo seu cunhado, Sonny é violentamente assassinado numa emboscada e a mulher de Michael morre num atentado à bomba. Já em casa, Don Vito passa o poder para Michael que se encarregará de organizar uma mega-operação de vingança destinada a decepar o poder das famílias mafiosas rivais e punir todos os que atraiçoaram os Corleone.
Apesar da duração do filme ser quase de três horas, o filme foi um êxito sem precedentes que ajudou a catapultar as carreiras de Francis Ford Coppola e de Al Pacino. Coppola imprimiu um estilo visual inovador baseado numa narrativa dinâmica que seria imitada em filmes posteriores. A fase de produção foi recheda de peripécias. Os estúdios da Paramount, inicialmente renitentes em dar um projeto desta envergadura a um realizador inexperiente como Coppola, controlaram ao máximo todas as suas decisões. Tudo começou com a escolha das personagens: Mario Puzo não fazia questão de esconder que escrevera o romance pensando em Brando para a composição de Don Vito Corleone. Mas os produtores não concordavam com a escolha: Brando tinha acumulado uma série de reveses comerciais e era encarado como um ator difícil e conflituoso, tendo sugerido os nomes de Edward G. Robinson ou Laurence Olivier. Coppola entretanto convenceu Brando a sujeitar-se a um teste gravado de imagem e no decurso deste Brando surpreendeu tudo e todos com a naturalidade com que compôs a personagem, deliciando o realizador com um pormenor sui generis: para acentuar as bochechas e a voz arrastada do patriarca, Brando colocou lenços de papel e pedaços de queijo dentro da boca. O truque convenceu definitivamente os produtores que, no entanto, exigiram que Brando trabalhasse por um pequeno cachet (100 mil dólares) e uma percentagem dos lucros (que ascenderiam aos 15 milhões de dólares). A escolha de Al Pacino também não foi pacífica: para o papel de Michael Corleone, a Paramount exigia um jovem ator de créditos firmados como Robert Redford ou Ryan O'Neal, já que Pacino era um ator desconhecido à altura. Contudo, Coppola havia ficado impressionado com a atuação de Pacino nos castings e fez finca-pé, atitude que quase lhe valeu o despedimento. Os produtores só reviram a sua posição depois de assistirem às filmagens da cena do tiroteio no restaurante, uma cena-chave do filme que Pacino desempenhou sobriamente.
Houve cenas que ficaram míticas: a cena de abertura que começa com a frase I Believe in America dita por um cangalheiro que vem pedir um favor a Don Vito, a cena da cabeça de cavalo cortada e inserida na cama de um influente produtor de Hollywood e o assassinato de Sonny Corleone, sucessivamente metralhado. Inesquecíveis ficaram também a direção de fotografia de Gordon Willis alicerçado numa sóbria articulação de luz e sombra e a partitura musical da autoria de Nino Rota (habitual colaborador de Federico Fellini) e de Carmine Coppola (pai do realizador). O filme foi nomeado para 11 Óscares, tendo vencido em três categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Brando rejeitaria o Óscar como forma de protesto pela situação em que viviam os índios norte-americanos) e Melhor Argumento Adaptado. O sucesso do filme mereceu duas continuações: em 1974, The Godfather Part Two (O Padrinho II), o argumento fez um paralelismo entre a juventude de Vito (desempenhado por Robert de Niro numa composição que lhe valeu o Óscar para Melhor Ator Secundário) e a afirmação do poder de Michael que tentará lidar com o facto de ter sido traído pelo seu irmão Fredo. Em 1990, surgiu The Godfather Part Three (O Padrinho III), onde é retratada a decadência de Michael, os seus negócios obscuros com o Vaticano e a sua passagem de testemunho ao sobrinho Vincent (Andy Garcia), filho ilegítimo de Sonny.
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