Grande deusa da fertilidade e da maternidade, Ísis foi particularmente cultuada no isolado e invulgar complexo de templos da ilha de Filas. A deusa da magia representava o ideal de mulher, esposa e mãe dedicadas, e o seu culto disseminou-se, partindo da Alexandria, até ao mundo helenístico. De acordo com a crença egípcia a teologia heliopolitana, é filha de Geb, deus da terra, e Nut, deusa do céu, irmã e esposa de Osíris, juiz dos mortos, e mãe de Hórus, deus do dia.
Lendas antigas descrevem Ísis como detentora de poderes mágicos, sendo representada sob a forma humana, como uma bela e elegante mulher ostentando, sobre a cabeça, o signo hieroglífico em forma de trono ou o disco solar ladeado de cornos de vaca. Inicialmente, Ísis era a deusa do trigo e era invocada no tempo de colheita. Os egípcios acreditavam que a sua personalidade se assemelhava à de Hator (com quem é, por vezes, iconograficamente confundida), deusa da alegria e do amor, sendo vista como uma encarnação dos aspetos da mulher-modelo: filha, irmã, esposa, mãe, sacerdotisa, mágica, amante e rainha. Segundo a tradição, Osíris e Ísis reinaram no Egito num tempo próspero e feliz, durante o qual, o casal divino, ensinou ao povo as normas da civilização, a agricultura e as artes necessárias à vida. De acordo com o mito osírico, que chegou até nós através da obra De Iside et Osiride (século I d. C.), de Plutarco, Osíris foi traído pelo seu irmão Seth, que o matou e esquartejou. Piedosamente, Ísis teria recolhido os seus pedaços, espalhados pelo Egito, e reconstituído o seu corpo (dando origem à primeira múmia), devolvendo-o à vida através da magia, para assim conceberem um filho, Hórus, e garantir a sucessão ao trono do Egito.
Quando Osíris, ressuscitado para uma nova vida restrita ao além, partiu para sempre, Ísis criou o seu filho nos pântanos do Delta, ganhando o seu sustento como fiandeira, ocultando e protegendo Hórus de Seth, até que este chegasse à idade viril e fosse capaz de vingar o pai. Com o apoio vital de Ísis, Hórus consegue vencer Seth e ganha o estatuto de rei, fundando o padrão mítico, segundo o qual todo o faraó é Hórus. Ísis torna-se assim a protetora dos jovens, das crianças e também deusa da magia. Quando Ísis morreu a sua alma foi habitar a Lua, enquanto a de Osíris foi habitar o Sol. Os egípcios acreditavam que as cheias periódicas do Nilo eram produzidas pelas lágrimas de Ísis, que chorava a morte de Osíris, e, por isso, celebravam a festa da deusa na época em que as águas iniciavam a sua subida. Ísis passou a representar a Natureza e, como mãe de todos os seres, era também representada como uma mulher sentada amamentando uma criança ao colo. O culto de Ísis, com possível origem na região do Delta, teve como centro, no século IV a. C., quando se encontrava no seu auge, a ilha de Fila (ou Philae), no Nilo, onde foi erguido um grande templo em sua honra, durante a 30.ª Dinastia. Foi venerada em todas as cidades do Egito, especialmente em Buto, Copto, Filas e Alexandria, sempre associada a Osíris. O seu culto disseminou-se da Alexandria até ao mundo Helenístico, após o século IV a. C. Surgiu na Grécia, combinado com o culto de Hórus, seu filho, e Osíris, seu esposo e irmão.
O historiador grego 90237 Heródoto identificou Ísis com Deméter, a deusa grega da terra, da agricultura e da fertilidade. O culto tripartido de Ísis, Hórus e Osíris foi, mais tarde, introduzido em Roma, em 86 d. C., durante o consulado de Lúcio Cornélio Sulla e tornou-se num dos mais populares ramos da religião romana. Adquiriu, a determinada altura, má reputação devido à leviandade de alguns dos ritos, tendo sido, subsequentemente, suprimido e limitado por alguns cônsules. O culto de Ísis morreu em Roma, após a institucionalização do Cristianismo, e os últimos templos egípcios dedicados a esta deusa foram encerrados no século VI d. C. O culto de Ísis chegou mesmo a suplantar o de algumas divindades romanas, existindo templos dedicados à mesma por todo o Império, incluindo na Gália, em Espanha e nas margens do Reno e do Danúbio.
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