Filho de Geb (a terra) e de Nut (o céu), irmão de Ísis, Osíris e Néftis, esta divindade passou a estar associada ao caos e à maldade, a partir da Época Baixa, com a popularização do culto de Osíris. A figura de Seth foi, a partir deste período, alvo de perseguições, enquanto assassino e desmembrador de Osíris, que culminaram na destruição sistemática de muitas das representações deste deus. Seth foi venerado desde tempos pré-históricos, por todo o Egito, facto comprovado por se encontrar representado em muitos objetos deste período. No domínio da iconografia régia, surge várias vezes lado a lado com Hórus, segurando as plantas heráldicas do Egito (o papiro do Norte e o lótus do Sul), que contornam o sema-taui, símbolo da união do país, sendo esta representação uma clara expressão da tradicional busca egípcia do equilíbrio e da harmonia.
Segundo a lenda, o Baixo Egito teria sido atribuído a Hórus, por Geb, enquanto Seth teria recebido o Alto Egito. Em determinados períodos da história do Egito, as rivalidades entre as duas fações são mais acentuadas, sendo possível assistir, durante estes períodos, à adoção de título-nome Seth ou Hórus pelos monarcas, que marcam desta forma a oposição à outra fação. Do mesmo modo, em períodos de reconciliação era usado o duplo título de Hórus-Seth, assinalando a reunificação. Seth é apresentado, segundo os Textos das Pirâmides, como uma divindade violenta, responsável pelas tempestades de areia, pelo trovão, pelas nuvens escuras e carregadas, e pelo sopro maligno. Surge, deste modo, como inimigo da luz, como o que ataca o Sol e o céu com a trovoada, as nuvens e o granizo. Os egípcios explicavam os eclipses como uma atuação de Seth, que arrancava o olho direito (Sol) ou esquerdo (Lua) a Hórus. Assim, o mítico combate entre os dois deuses encontrava reflexo no comportamento dos astros.
De acordo com a lenda, Seth teria arrancado um olho a Hórus, durante um confronto, que retaliou castrando-o e deixando-o estéril, acentuando-se o contraste entre os dois rivais dado que, enquanto a Hórus eram atribuídos quatro filhos, Seth era referido como o castrado. Por outro lado, o malvado Seth, deus do deserto e da desolação, era muitas vezes comparado com o bom Osíris, deus da vegetação e da fertilidade. Existem várias versões da luta entre Seth e Hórus, que adquirem por vezes contornos violentos e aberrantes. Invariavelmente, Hórus tem o apoio de sua mãe, Ísis, do tribunal divino, presidido por Ré, e de outras divindades. De acordo com a crença egípcia, Hórus tentou matar Seth, que se transformou em hipopótamo, sendo a imagem deste confronto um paradigma da luta entre o bem e o mal. Seth é frequentemente representado como um porco ou como um hipopótamo, surgindo em outras ocasiões sob a forma de um animal de interpretação incerta. Do mesmo modo, aparece por vezes na forma antropomórfica com a cabeça de um animal mítico. O culto de Seth teve origem na 5.ª província do Alto Egito (Nubet ou Ombo), sendo particularmente venerado na zona do Delta Oriental.
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