Todas as culturas têm uma ideia de inferno, desde a primária conceção de habitáculo dos mortos ou de espíritos malditos até lugar dos sofrimentos e suplícios eternos. Vinculado essencialmente à conceção religiosa do Homem, o Inferno está presente na história da cultura, das mentalidades e da conduta moral da Humanidade, por oposição ao Bem, na medida em que é o lugar do Mal, ou de castigo dos pecadores.
Do latim infernu(m), o que é ou está "inferior", que está abaixo de tudo. A ideia de Inferno tal como é hoje conhecida na cultura ocidental deriva das descrições que sobre ele vêm nos Textos Apócrifos ou nas visões, e suas narrações, dos monges da Idade Média. Lugar de almas danadas para toda a eternidade, de todos os pecadores sem possibilidade de penitência ou salvação, o Inferno é representado como um abismo ou fossa imensa, quando numa cratera escalonada, dividida em nove patamares concêntricos, povoados de almas danadas e criaturas demoníacas.
O terceiro reino do Além-túmulo, para muitos povos antigos do Crescente Fértil, era colocado no mundo subterrâneo, sendo descrito como um lugar de penas, castigos e tormentos eternos. No Antigo Testamento, quer para Judeus quer na conceção cristã, não foi dado muito espaço narracional dedicado ao Inferno, como à ideia mais generalista de Além, que pode englobar também o Paraíso. Para os Judeus, todas as almas de defuntos, fossem pecadoras ou meritórias, tinham que se demorar algum tempo no Sheol, uma espécie de "reino as trevas" ou "sombras". No Livro de Henoc, por exemplo, a principal fonte iconográfica do Inferno dos Cristãos, introduz-se nesse fosso ou abismo profundos as figuras maléficas de Satanás (ou Demónio, Diabo, Lúcifer ou mesmo Belzebu, o "rei das moscas" ou do "estrume") e dos seus acólitos, os anjos rebeldes.
A tradição mais divulgada do Inferno divide-o em nove patamares a girar sobre um ponto central, como uma espiral (como na pintura O Inferno, de Botticelli, 1481, para frontispício da Divina Comédia, de Dante), em oposição às nove ordens ou coros angélicos do Paraíso, mas correspondendo às nove culpas acometidas à Terra. Este motivo iconográfico difundiu-se no Ocidente a partir dos séculos IX-X, em ilustração pormenorizada dos textos do Apocalipse, atribuído a S. João Evangelista. A principal fonte literária do Inferno cristão continua a ser a Divina Comédia de Dante Alighieri, influenciada pelas descrições clássicas de Homero, Platão, Virgílio e Ovídio, acerca do reino dos Mortos, bem como pelos Evangelhos Apócrifos e dos textos dos exegetas árabes e da Escolástica medieval (como o Elucidarium de Honoire d'Autun). No fundo do abismo infernal está Satanás, ou Lúcifer tricéfalo (de três cabeças), representado a devorar as almas danadas. Ao lado, serpentes a morder os genitais e o peito das almas que cometeram o pecado de luxúria, por exemplo.
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