Já ouviu falar sobre o famigerado e ilusivo Jack Russell Terrier de "pata curta"? Não? E os JRT's exóticos, raríssimos, com olhos azuis e trufas fígado? Uma vez disseram-me que o meu JRT tem patas de "Queen Anne", quererá isto dizer que tem ascendência real? Verdade ou mentira? Deixe de andar a apanhar bonés e descubra toda a verdade sobre o cão de Jack Russell Terrier.
Jack Russell Terrier de "pata curta"
Não há Jack Russell Terrier de pata curta, assim como não os há de pata comprida. O estalão da raça é bastante claro relativamente a este ponto: a altura de um JRT deve estar compreendida entre 25 a 30 cm à cernelha. A cernelha, garrote ou cachaço não é mais senão o ponto mais alto do ombro do cão logo atrás da base do pescoço, região onde se unem as espáduas em forma de cruz. Esta grandeza acha-se medindo a distância desde a base da pata até à extremidade da cernelha, desconsiderando a altura da cabeça do cão.
Ainda, em defesa da harmonia de proporções, importa realçar que a medida da pata (desde a base até ao cotovelo) deve ser a mesma que vai desde o cotovelo à extremidade da cernelha, tal como se afigura na imagem abaixo: a distância do ponto A a B deve ser igual à distância do ponto B ao C.
Jack Russell Terrier exóticos
Mais uma vez, basta consultar a matriz para constatar que não é aceitável haver JRT's de olhos azuis nem com trufas fígado (castanhas). Relativamente à cor dos olhos, o estalão é peremptório ao declarar que estes deverão ser "pequenos e escuros..." ou seja, pretos ou castanho-escuros.
Quanto à cor da trufa, esta deve ser preta. Um cão que apresenta a trufa de cor fígado quer dizer que é portador do genótipo bb. Em genética, o locus B determina se o cão vai ser preto ou fígado, sendo que B (cor preta) é o gene dominante e b (cor fígado) é o gene recessivo. Este gene afecta somente a eumelanina (pigmento preto), quer isto dizer que, nos cães bb, tudo o que seria preto passa a ser fígado. Normalmente, cães com este genótipo tendem também a ter os olhos claros (fig. A). Esta característica não é desejável nem aceitável à luz dos estatutos da raça.
Ainda, relativamente ao pelo, existe alguma variedade de cores mas há um príncipio fundamental e categórico a respeitar: a cor de base, e portanto, a predominante deve ser sempre o branco. Sobre este, podem exibir-se manchas pretas e/ou castanhas, sendo que esta última cor se pode manifestar em diferentes gradações. A pelagem pode ser tricolor, seja branca, preta e castanha, (incluindo o padrão grizzle) ou bicolor: branca e preta ou branca e castanha. O padrão brindle (tigrado) e outras cores que não as referidas anteriormente não são aceitáveis.
Caro leitor incauto, apesar de serem absolutamente excepcionais e muito singulares, não existem Jack Russell's exóticos, existem é muitos criadeiros desonestos e criativos que não perderão uma oportunidade de o iludir com o enredo do Jack Russell raro e exótico. Evite futuros constrangimentos e trate com criadores sérios e responsáveis, peça a listagem de criadores de Jack Russell Terrier no Clube Português de Canicultura.
Ao criadeiro espertalhão, agora que a verdade foi desvendada, aqui ficam algumas ideias inovadoras para futuras negociatas: o temível Jack Russell Checoslovaco, o elusivo Jack Russell da Rodésia ou o sui generis Jack Russell pelado Mexicano.
O claudicar ou coxear intermitente é característico e natural nos Jack Russell Terrier
Não é. Se o seu cão apresenta este tipo de sintomatologia, urge consultar um médico veterinário para que o possa diagnosticar.
É muito provável que seja uma luxação da rótula ou patela: caracteriza-se pela deslocação da mesma da sua posição normal na fossa troclear do fémur. É uma condição hereditária e degenerativa, por isso deverá informar-se relativamente à história clínica da ascendência, falar com o criador e observar os progenitores em busca de sinais suspeitos. Infelizmente, é uma doença ortopédica assustadoramente comum nos Jack Russell, um verdadeiro flagelo.
Este mito disseminou-se de tal forma que a maioria dos tutores e entusiastas da raça acredita que o coxear esporádico e inconstante é "típico" da raça uma vez que o JRT não se queixa de dor, já veremos porquê:
De acordo com os sinais clínicos, podemos classificar esta doença em 4 graus. Esta categorização é importante tanto para o diagnóstico, como para o tratamento:
- Grau I: normalmente detetado acidentalmente durante a consulta, sem o cão coxear (sem claudicação) e sem deformidades ósseas associadas;
- Grau II: com luxação da rótula espontânea, com sinais clínicos não dolorosos e claudicação (coxear) intermitente. Deformidades ósseas leves;
- Grau III: rótula luxada (fora do local habitual), mas pode ser recolocada manualmente. Com grau de claudicação variável entre leve, moderada a severa. Deformidades ósseas mais severas;
- Grau IV: com luxação permanente da rótula sem possibilidade de redução manual (impossível de recolocar manualmente o osso no local correto) – é a forma mais severa. Pode manifestar-se como um episódio agudo de claudicação ou um agravamento repentino da claudicação crónica devido a rotura do ligamento cruzado cranial. Apresenta deformidades ósseas muito severas.
O tratamento varia de acordo com o grau de luxação.
- Grau I: Tratamento conservativo, com recurso a medicação e fisioterapia;
- Grau II: Em casos de claudicação leve e intermitente poderá ser indicado tratamento conservativo, contudo é aconselhado o tratamento cirúrgico na maioria das situações;
- Grau III/IV: tratamento cirúrgico.
Patas de "Queen Anne" é sinónimo de ascendência real
"Queen Anne" é o nome que se dá a um tipo de mobiliário distinto popularizado durante o reinado da Raínha Anne de Inglaterra, no sec. XVIII. A "perna cabriole" é a imagem de marca deste estilo e consiste em duas curvas: o arco superior é convexo, enquanto o inferior é côncavo, a curva superior sempre se curva para fora, enquanto a curva inferior se curva para dentro.
É um termo usado para descrever uma deformidade das patas dianteiras que arqueiam de forma similar, muito comum nos Jack Russell mas também muito indesejável. Parafraseando o estalão: os membros anteriores devem constituir "linhas rectas desde os cotovelos aos dedos independente de vista frontal ou lateral".
Portanto, se o seu Jack tem patas de Queen Anne, quer dizer que tem uma deformação nas patas dianteiras, que pode originar complicações ortopédicas. Se procura adoptar um JRT, deve investigar a ascedência do cachorrinho, garantindo que os membros dos progenitores se encontram em conformidade com o estalão.